domingo, outubro 29, 2006

a box for the invisible mouth, no light can come in, no shine can come out


Daniel deitou-se no chão como, de resto, fazia sempre que a vida lhe atirava cuspo à cara. Sara olhava-o do outra lado da sala, com desdém espelhado nos olhos. Sempre que ele fazia isto, ela ficava um pouco mais longe de obter a sua liberdade, agora reduzida aos poucos minutos que Daniel se arriscava a projectá-la no mundo. Costumava deixá-la vaguear por entre as almas, ocupadas a ir deste sítio para aquele, na sua imensa pressa de deixar o mundo com as mãos sacudidas da poeira. Um sentimento de trabalho bem feito. Dúzias de gerações que se mataram com esforço de fazer o mundo girar sem nunca pararem para perceber que outros mecanismos actuam no seu eixo. Parar é morrer, disseram, parar é morrer. Viver é morrer, e trabalhar não é viver. Era a estes e outros pensamentos que Sara se dedicava no seu dia-a-dia a observar as pessoas. Não era que simpatizasse muito com elas, simplesmente não tinha nada melhor para fazer. Enquanto Daniel estava na escola, não precisava dela. Ocupava-se com as futilidades dos papéis, das equações, dos colegas... Não tinha tempo para amar. Só á tarde, quando regressava, se dedicava a ela. Nunca lhe passou pela cabeça uma única vez que ela não precisasse dele, que o odiava. Ele não a queria para companhia, sequer, apenas uma imagem para onde pudesse olhar sem medo, sem vergonha. Era a porra de uma fotografia com alma. Desprezava o seu criador, o seu egoísmo, metia-lhe nojo um ser assim. E depois, mesmo quando era ingénua, mesmo quando sentia saudades de Daniel, ele refugiava-se dentro do ego e saía de lá com mais correntes e grilhões, onde ia ele buscar aquelas ideias, não sabia. Mas sempre que Daniel tinha mais uma crise existencial, Sara saía a perder. Agora, já nem podia sair à rua. Estava sempre em casa. Sempre fechada no quarto. A pouco e pouco, as paredes ficavam mais juntas, engoliam-na. Tudo por culpa daquele visco que se arrastava pelo chão, em pensamentos deprimentes. Agora fechava os olhos, abria os braços, ela já sabia o procedimento. Agora murmurava para si mesmo, em Inglês. Sempre em Inglês. Era assim que falava consigo mesmo, patético, não é? A língua estranha dava-lhe refúgio, deixava-o ser outro alguém, alguém melhor.

Sara olhou pela janela e esperou que acabasse.

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Daniel conseguia sentir a respiração suspirante de Sara. Inalava o seu protesto a cada respiração lenta. Fechava os olhos e o mundo desaparecia outra vez. Abria-os e lá estava tudo no mesmo lugar de sempre. Fechava-os outra vez e voltava à escuridão. Aqui, podia abrir os braços e receber o mundo que o repelia durante as horas acordado. Aqui, podia ser ele mesmo, sujeito ao seu próprio julgamento. Aqui, podia perceber porque é que o mundo demorava tanto a revelar-lhe o óbvio, aquilo que Daniel já tinha percebido há tanto tempo. Era uma questão de tempo, tinha de ser. Era tudo tão perfeito que não podia ser apenas um delírio. As coisas aconteceriam como tinham de acontecer, como Daniel as via na sua mente. Procurou respostas. "O teu esforço em permaneceres como és é o que te limita" pensou. Mas era tão difícil sair de si próprio. Só a ideia o aterrorizava. "E se não conseguir voltar? E se o meu corpo não me aceitar de volta?" Não. Tinha de haver outro modo, outra saída. Cultivava paciência, mas já estava farto de esperar. Porque demorava o universo tanto tempo a dar-lhe o que queria? É difícil naquelas noites de desespero, nos olhares indiscretos a outros. Está lá tudo, tão perto, mas Daniel não consegue alcançar. Queria escondê-los a todos, prendê-los, nunca mais lhes pôr a vista em cima. Não tinham o direito de se pavonearem assim, à sua frente, gozando, rindo... Todos os que conhecia, todos os que não conhecia. O mundo era uma gigantesca festa e todos estavam convidados menos ele...

Mas tinha Sara, ou pelo menos o seu espelho, e a ela não a ia deixar fugir...

Abriu os olhos e Sara percebeu que era a última vez que via a luz do Sol.

4 comentários:

Anónimo disse...

Quero ler mais =)
Porque Sara à mts não é vdd? xD

Anónimo disse...

:D
Voltaram as histórias do dia, ainda bem ^^

[]

Anónimo disse...

bem...acho que sim menos quando não me apetecer ou assim
vou deixar o outro sim...vou mm apagá lo que já chateia
espero que gostes deste novo =)
não comentas te a frase da Amelie !!!!

Klatuu o embuçado disse...

__________FELIZ NATAL__________

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