sexta-feira, abril 14, 2006

História de uam viagem ao Norte IV

"Na sexta-feira, dia 31 de Março, sensivelmente um mês depois de termos começado a planear a viagem, cheguei acompanhado pela minha mãe e com o meu saco de viagem à estação dos barcos. Era o primeiro e ainda tive de esperar uns bons 10 minutos antes de aparecerem a Cristiana, a Vitória e a Tânia, todas juntas. O Antunes chegou um pouco depois.
A 5 minutos de partir o barco, só faltava a Sara. Onde estaria? Segundo as suas amigas, tinha estado na borga na noite passada, por isso devia ter custado a acordar. A própria Sara disse mais tarde que tinha acabado de acordar quando chegou à estação.
Mas antes disto, estávamos preocupados. Comprámos imediatamente bilhete para ela, de modo a estarmos prontos assim que chegasse. Claro que se ela se atrasasse, podíamos sempre apanhar o barco 10 minutos depois, mas tal nem foi necessário. Com a sua mochila gigantesca (que havia comprado já a pensar no InterRail que quer fazer para o ano que vem), a Sara foi avistada e dirigimo-nos para o barco.
Fui o último a reparar nela, o que é estranho pois normalmente consigo detectar aquela mancha de cabelo amarelo no meio da multidão. Apressámo-nos a despedir-nos dos nossos pais e a picar os nossos bilhetes.
Antes de entrarmos encontrei ainda a minha prima. Ela, que na noite anterior me tinha telefonado a dar dicas de sítios a visitar em cada cidade, desejou-me ali na prancha boa sorte mais uma vez e despediu-se de mim.
A viagem de barco para Lisboa foi normal, sem nada a declarar. Entretíamo-nos a ler suplementos e a conversar um pouco. Só em Lisboa é que me despedi da minha mãe, pois ela apanha todas as manhãs aquele mesmo barco para ir enfrentar a multidão raivosa no seu emprego de funcionária pública. Quanto a nós, caminhámos cerca de um quarto de hora (demorámos mais por causa dos sacos e mochilas) até à estação de Santa Apolónia, ironicamente onde o meu pai trabalha (mas ainda era cedo para o encontrarmos por lá, visto que me despedi dele em casa ainda meio a dormir).
Imediatamente me colei à Vitória para comprar os nossos bilhetes (especiais, estão a ver, porque ambos os nossos pais trabalham no ramo da ferrovia). Sim, o meu pai trabalha para a Refer e o dela na CP, logo temos direito a passes especiais que nos dão 4000 km grátis de viagens, quer de comboio, quer de barco, os quais deram muito jeito nesta aventura.
Pois bem, bilhetes comprados (após uns bons 10 minutos durante os quais me apercebi que a Vitória, além de líder natural, era também uma negociadora feroz, autoritária, mas sempre simpática com o homem que nos vendia os bilhetes e se ria de nós), entramos no comboio, arrumamos as malas e tomamos os nossos lugares. Temos uma longa viagem até à estação de São Bento, no Porto, por isso é a melhor altura para vos tentar dar uma descrição detalhada dos restantes membros da nossa expedição.
O Antunes e a Cristiana já foram analisados aqui, mas apenas deixei várias pistas sobre a Sara e a Vitória e da Tânia ainda nem comecei, mas vamos por partes.
Começo pela Sara, que é quem conheço melhor das três mas mesmo assim parece-me ser a pessoa mais difícil de descrever. Disse antes que costumo conseguir detectá-la ao longe, mas isso deve-se principalmente ao contraste que o cabelo curto e louro dela faz com as roupas pretas que usa (geralmente, pois também veste cinzento mas nunca nada muito colorido, salvo algumas excepções como meias ou tènis). Mas cuidado! Ao contrário do que esta vestimenta poderia dar a entender, odeia ser chamada de gótica, preferindo o termo “pseudo”, seja lá isso o que for.
É difícil sequer considerar uma análise psicológica à Sara, mas se tivesse de dar algumas “guidelines”, seria um por vezes exagerado sentimento de independência e uma atitude de, nas suas próprias palavras “odiar as pessoas”. Mas isso não a define, longe disso. É uma daquelas pessoas que tanto pode ser o ser humano mais simpático e amigo, como pode dizer coisas que magoam mesmo e te deixam em baixo. E é também uma das minhas pessoas favoritas, e olhem que a lista é pequena. Também se deve dizer que tenta disfarçar a sua inteligência com uma enorme auto-crítica, que em certas alturas chega a ser irritante. E não me arrisco a dizer mais.
Quanto á Vitória, tal como a Tânia, pouco poderia eu dizer neste começo de viagem, mas graças ao tempo que passámos juntos nos dias seguintes, pude traçar uns rabiscos psicológicos. A primeira, como já viram, não tem quaisquer problemas de timidez. Devo confessar que, antes de a conhecer, pensava ser uma “sex-bomb” com algumas qualidades próprias de uma ruiva, apesar de não o ser (devem ser os olhos verdes e as sardas que nos levam a essa impressão). Esta aura de superficialidade que eu colocava à sua volta desvaneceu-se quando descobri, entre outras coisas, que lia talvez até mais que eu, ouvia excelente música (além de cantar lindamente, o que foi mais que suficiente para travar os meus impulsos musicais). Era também a única que sabia onde ficavam as pensões, o que íamos visitar no dia seguinte, a que horas eram os comboios, portanto, a líder.
A Tânia era diferente, pareceu-me um pouco mais calada, mais reservada. Ingenuidade da minha parte, pois aprendi que, quando tem algo a dizer, di-lo. Quando tem uma opinião sobre uma pessoa, boa ou má, mostra-a sem pudor. Dir-se-ia ser uma rapariga frontal, que diz sempre o que pensa. O facto de ter namorado explica as tantas vezes que olhava para ela e a encontrava de telemóvel na mão, a mandar mensagens. Pelo que me pareceu, tem alguns complexos em relação à sua própria pessoa, como pensar que é gorda, coisa que não é. Mesmo nada. Mas quando gozamos com isso pode mesmo ficar ofendida, o que nos deixa destroçados. Foi provavelmente a pessoa que fiquei a conhecer menos bem nesta viagem e tenho pena disso, pois é uma rapariga divertida e bem disposta."

1 comentário:

Anónimo disse...

Assim até fico a conhecer pessoas que não conheço =P

Estou a gostar da história, venha de lá o próximo capítulo ...