sábado, abril 08, 2006

História de uma viagem ao Norte I

"Esta não é a melhor altura para contar esta história. A melhor altura seria há uma semana atrás, quando a viagem começou, e ao longo da mesma, registando todos os factos e curiosidades da nossa digressão pelo Norte. E eu até levei um caderno, para o caso de o cenário de uma nova terra me dar inspiração seja para o que for, mas, se tal aconteceu, ou não reparei, ou não tive pura e simplesmente tempo de escrever.
A culpa é minha, por só ter a ideia de fazer este relato durante a viagem de comboio de volta ao Barreiro, num daqueles momentos de aborrecimento quando a leitura já não se colava ao cérebro e tinha de ler a mesma frase várias vezes até perceber o significado, e toda a música disponível estava a ser utilizada por outros. Foi nessa altura que saquei do meu caderninho. Por um grande momento (tão grande como me pareceu) não encostei sequer a caneta ao papel. Limitei-me a ler e reler aquilo que havia andado a escrever há já umas semanas. O meu projecto máximo (já o foi mais) que é a escrita de um argumento, um guião de uma série de televisão sobre mim mesmo e alguns dos meus amigos, 3 deles membros desta viagem. Virava as páginas e ria-me com a maneira horrível com que escrevi algumas cenas e, não pretendendo ser vaidoso ou algo assim, é verdade que também me espantei como certos pedaços de texto faziam muito sentido e estavam, arrisco-me a dizer, bastante bons. Tive realmente prazer em relê-los, como se estivesse a ler algo que outra pessoa escreveu.
Não vos vou maçar mais com os detalhes da minha tentativa praticamente destinada ao fracasso de fazer fama e fortuna (porque também sou materialista) e também de marcar o meu lugar neste mundo, dizer “eu estou aqui!” e todos me reconhecerem para que possa viver um pouco mais que as outras pessoas.
O importante é que, ao chegar a uma página ainda imaculada, cheia de expectativas, retirei a tampa da minha caneta e comecei a preenchê-la. Primeiro devagar, tirando grandes pausas para reflectir e observando os meus colegas de viagem que, ou jogavam á sueca, rindo-se da falta de coordenação uns dos outros para compreender os sinais, ou, como o André ao meu lado, ouviam música enquanto olhavam, ora para a paisagem, ora para o meu lado, tentando (em vão, espero eu, pois é uma coisa que me irrita) ler o que escrevia há medida que o escrevia.
Contudo, após a timidez inicial, e apesar do desconforto dos assentos, a caneta começou a deslizar com mais suavidade e ritmo, chegando ao fim da página e virando-a, continuando a deitar tinta do outro lado. Escrevia com gosto, algo que não me acontecia desde o princípio da viagem e cheguei a atrair a curiosidade de algumas das minhas colegas. Uma delas chegou a lançar a piada que eu escrevia uma carta de suicídio e deviam impedir-me.
E o que escrevia eu? Sem o saber, escrevia o embrião daquilo que espero ter a vontade e paciência de vos mostrar nas próximas páginas: um relato da nossa viagem de férias da Páscoa a três cidades deste país (ou quatro, se contarem o tempo no Porto á espera de comboio). Esta ideia perseguiu-me desde que fechei aquele caderninho até agora, que a estou a pôr em prática e há-de estar comigo enquanto me der gozo explorá-la e não for chamado por outras responsabilidades.

De qualquer modo, espero que gostem e me desculpem pelas ocasionais e inevitáveis incongruências presentes neste texto mas, como já expliquei, comecei a escrever isto um pouco tarde e é provável que não me lembre de bastantes pormenores importantes, ou me recorde de outros completamente banais.
Espero também que nenhuma das pessoas mencionadas neste jornal fiquem ressentidas ou chateadas com o que estou prestes a escrever sobre eles. Adoro-os a todos. E por isso é que irei considerar muito bem se hei-de ou não publicar este pequeno impulso criativo, seja num blog ou num site. Agora, não empato mais e vamos ao que interessa."

1 comentário:

Anónimo disse...

A'ight, venham de lá os escritos, agora fiquei curioso ^^