domingo, abril 23, 2006

História de uma viagem ao Norte VI

"Ah! Guimarães, finalmente, a cidade que respira história! Saímos do comboio cansados de tanta viagem e dirigimo-nos imediatamente e um daqueles placards que as cidades importantes têm, com o “Você está aqui” carimbado com um círculo enorme. A Vitória seguiu o dedo encostado no placard, (porque parecia ser a única que sabia o que procurar) e começámos a caminhada pela cidade, em busca da nossa pensão. Com curiosidade, ainda tive tempo de observar, ao longe, nas montanhas que nos rodeavam, uma árvore muito estranha. Quer dizer, a árvore em si nada tinha de estranho, o curioso era ser uma árvore tão alta, no cimo da montanha sem nenhuma outra árvore à volta. Nem nada mais alto que um arbusto. Isso dava àquela planta um significado quase sombrio, como se fosse um vigia. Comuniquei a minha descoberta à Sara (parecia ser a única minimamente interessada) mas lá tivemos de deixar a árvore em paz, porque a caravana não espera por ninguém.
Subimos a rua e vimos as decorações de Páscoa (as quais o pessoal do Norte levam muito mais a sério que nós do Centro), com bandeirinhas que mostravam o caminho para uma igreja lindíssima com o devido porte histórico. As casas rústicas davam um aspecto simpático à praça onde nos encontrávamos e havia espaços verdes com fartura.
Foi mais acima que tivemos de pedir direcções para a pensão. E foi também aí que recebemos a primeira impressão com gente rústica do Norte. (estou a ignorar o empregado de café que nos atendeu no Porto, mas esse também merece alguns créditos) Nem vale a pena dizer qual de nós viajantes foi o primeiro a abordar os dois senhores que conversavam animados. Mal a Vitória se aproximou, mostraram-se todo ouvidos. “Desculpe, mas onde é a rua tal-tal-tal?” “Então, menina, é já ali ao pé do estádio” “Pois, mas é que nós não somos de cá” (devo ainda dizer que o tom de voz da Vitória, quando interpela alguém para “negociações”, ganha uma aura angelical e inocente que me surpreendeu bastante).
Bem, graças à ajuda desses dois indivíduos, do taxista e do homem que seguia no táxi (que parecia árabe ou uma coisa assim, tive dificuldade em percebê-lo por causa da falta de dentes), conseguimos tomar o rumo apropriado ao nosso destino. Pelo caminho, ainda vimos umas varandas catitas, levámos com fumo de autocarro na cara, desviámos a atenção do André e da Cris de lojas de desporto e da Sara de uma loja de piercings, ou da Vitória e Tânia de lojas de roupa. Não pretendo excluir-me desta atenção em lojas propositadamente, se houvesse alguma loja que me interessasse naquela rua, como uma livraria ou uma DVDteca, teriam de me descolar da montra, mas eu, pelo menos, não vi lá nenhuma.
Uma coisa sobre Guimarães para a qual já me tinham alertado é o trânsito, que é caótico. Não tive chance de comparar dada a nossa curta estadia, mas já ouvi dizer, inclusivamente, que é pior que em Lisboa, o que já é dizer muito.
Passámos por muitos sítios em que dissemos: “Temos de vir aqui”. Claro que alguns desses locais nunca nos viram pôr lá os pés, tais como a Biblioteca (nós tentámos, mas tinha acabado de fechar) e a igreja lá perto. Mas passeámos bastante e vimos muitas coisas.
Finalmente, chegámos à pensão, onde nos indicaram os quartos, ao lado um do outro. Ou melhor, o quarto que elas as quatro partilhavam ficava mesmo ao lado do buraco que era habitado por mim e o Antunes. Elas tinham sala de estar, mini-frigorífico e uma vista para a rua (e via-se aquela estranha árvore). Nós só tínhamos casa-de-banho e quarto, com vista para um beco cheio de chaminés e aparelhos de ar-condicionado de outros apartamentos.
Pusemo-nos à vontade, o André e eu, enquanto as madames tomavam banho ou trocavam de roupa. Aproveitei para organizar as minhas coisas (gosto de ter uma mesa-de-cabeceira com os objectos bem-ordenados quando vou de férias) e para pôr a leitura em dia. Claro que isto foi depois de já ter tomado banho, razoavelmente bem. O Antunes também tomou banho e ainda esperámos bastante tempo (o André a ver televisão e eu a acabar o “A Sangue Frio”) até elas se despacharem e irmos todos dar uma volta.
O plano era encontrar um super-mercado e abastecermo-nos para na manhã seguinte irmos à Penha, um parque natural maravilhoso. A Tânia e a Vitória precisavam também de encontrar um Montepio para que a primeira pudesse levantar dinheiro.
Lá descobrimos uma superfície comercial, que, por ironia, se encontrava subterrânea. (eh eh, gostaram?) Foi o super-mercado mais estranho em que já entrei, porque estava de tal modo limpo e organizado que parecia intocado por mãos humanas. Além disso, as luzes brancas de néon davam-lhe uma aura de laboratório ou corredor de hospital. E estava quase vazio, o que lhe conferia ainda mais ambiente Twilight Zone.
Compras feitas num instante, em parte graças à organização da Vitória e ao conhecimento do Antunes no que respeita a comparação de preços. De volta para a pensão, para depois sairmos a ir jantar.
Dito e feito, passeámos pela cidade e encontrámos um snack-bar onde estavam a passar DVD’s de wrestling. Fantástico, a Sara e o Antunes não demoraram a sentar-se de frente para a televisão de plasma gigante. (também aquilo estava vazio, tirando um gajo estranho numa mesa que também estava concentrado na Tv)
Pouco tempo depois, estávamos já a comer os nossos hambúrgueres (de carne ou de soja) e as nossas francesinhas (que eram mais compridas que o meu braço) quando entra outro personagem, que cumprimenta o gajo que já lá estava sentado da seguinte maneira (e sempre com aquele delicioso sotaque nortenho): “Então filha da puta. O que é que fazes, caralho?”. Senti-me finalmente no Norte. Foi também mais ou menos nesta altura que a Vitória notou que a sua bebida estava fora de prazo. Imediatamente pediu para lhe trazerem uma nova (autoritária, como sempre). Então, foi a vez do André ter reparado que a sua bebida também estava fora de prazo e também pediu que lhe trouxessem uma nova (isto com o empregado cada vez mais atrapalhado). “Peço desculpa. Não se preocupem.”, dizia enquanto trazia as novas bebidas. Pois…
Acontece que também as novas bebidas (pelo menos a da Vitória) também estavam fora de prazo. “Tas a brincar?”, perguntava, nervoso o pobre rapaz. Finalmente, trouxe mais uma rodada e desta vez tudo parecia bem. Não faço a mínima se o meu IceTea estava fora de prazo, nem data de validade tinha, mas não sabia mal, portanto, para quê incomodar-me?"

3 comentários:

Anónimo disse...

Opah esse cumprimento foi genial xD assim como se fosse muito normal, eu ri-me pela primeira vez com a vossa história lol

aiai viagens ao norte =)

[]

Anónimo disse...

Mas que estranho...Visto desse modo parece um BBC Vida Animal...

Anónimo disse...

yah update nesta bullshit =|

andam demasiado parados vocês =P